A COMIDA DIVERTIDA
Comer faz parte de um ritual que
realizamos para sobreviver. É a partir desse ritual que construímos no percurso
da nossa existência, os hábitos alimentares e junto com eles, sentimentos em
relação a comida que contribuem para aproximar e humanizar as pessoas.
Alguns diriam que cozinhar é uma arte
e envolve muito mais que um ato de sobrevivência. A culinária ajuda a desenvolver
a criatividade e aguçar os conhecimentos científicos no atrevimento de
experimentar diversos ingredientes e suas misturas. Sem subestimar, poderíamos
dizer que para cozinhar adquirimos conhecimentos de química e biologia (mistura
dos alimentos, higienização, conservação, fermentação, nutrientes), física (manuseio,
mudança de estado do alimento, uso dos equipamentos), história e geografia
(origem dos alimentos, região do plantio, natureza do solo) e podemos nos
tornar inclusive, pessoas mais conscientes do poder da natureza e das formas de
preservação ambiental para ter uma vida equilibrada.
Outros diriam que comer envolve
sentimentos. Por exemplo, lembrar do cheiro daquele “bolinho de chuva com
banana” que só a mamãe ou a vovó sabem fazer, “Que delícia!”. Aquela receita predileta,
preparada por àquela pessoa, seja ela quem for, que deixou nosso paladar mais
apurado e nos fez virar os olhos de tanto prazer ao comê-la. Tentar descrevê-la
aqui, seria simplicidade demais. É difícil traduzir em palavras aquele gostinho,
que volta na boca, enchendo-a de saliva quando nos reportamos as memórias da
cor, cheiro, forma, gosto e textura do alimento predileto. Nos faz lembrar do
local, pessoas, brincadeiras, enfim de tudo que envolveu aquele momento da
nossa vida nos emocionando e, principalmente, se essa for uma lembrança da
nossa infância.
Me peguei com o pensamento nessas
coisas outro dia no pátio da escola. Estava lá por um objetivo, fotografar as
crianças durante a refeição. Elas estavam sorrindo, brincando e saboreando seu
alimento. Detalhe, serviam-se sozinhas. Quantidade, diversidade, dosavam e
escolhiam o que colocavam no prato.
Observei que os “tias e tios” assim
como as crianças chamavam a todo instante, acompanhavam todo o processo da
alimentação orientando os pequeninos, falando sobre os alimentos e a
importância de comê-los. Não importava se o nome desses profissionais eram:
Lourdes, Rosangela, Margarida, Ivani, Eloá, Joana e Cristiano, porque independente
do nome de batismo, eram intitulados carinhosamente de “tias e tios” pela
proximidade e atenção que davam a elas.
Muito me chamou a atenção que as
profissionais da cozinha Sonia, Erica e Nice estavam pelo pátio, próximas ao
expositor de comidas conversando com as crianças sobre o cardápio do dia,
incentivando a experimentação dos alimentos.
As professoras também ficavam
presentes ajudando e orientando enquanto sua turma pegava a alimentação. Na
sala de aula e, em outros espaços desenvolviam atividades lúdicas e faziam leituras para que todos tivessem conhecimento dos alimentos e soubessem da
importância e funções no organismo.
A equipe de limpeza sempre a postos,
pronta para as eventualidades durante a refeição e cumprindo a rotina de
limpeza para deixar tudo impecável para o atendimento, envolvendo-se na
situação.
Muitas vezes presenciei no pátio, a direção ou coordenação que faziam registros audiovisuais, apreciavam, apoiavam e orientavam as ações de
todos.
Relembrei do meu tempo de infância.
Percebi que nunca havia conversado com a cozinheira da minha escola e nem
interagido com tantos adultos durante o intervalo.
Havia um prato enfeitando o expositor
do self service, bem lúdico, em formato de bichinhos ou objetos feitos com os legumes,
frutas, verduras e carnes utilizados no preparo do cardápio do dia. Tudo para
chamar a atenção das crianças às comidas oferecidas. Era evidente a dedicação e
carinho da equipe com a confecção do prato para a exposição dos alimentos.
Aquilo tudo tratava-se de um belo
momento de sedução alimentar! Enquanto aprendiam ali, o gosto por diversos
alimentos.
Conversei com algumas crianças e
perguntei a elas o que achavam da alimentação. Em resposta ouvi algumas frases
como: “A comida é gostosa”, “Eu gosto mais quando tem salada de beterraba”, “Eu
pedi para minha mãe fazer igual pra mim, lá em casa”, entre outras tantas que
diziam achar uma delícia a comida da escola. Percebi que um número
significativo dos pequeninos voltava para a repetir o prato. Achei muito
interessante, pois, nem sempre pegavam de tudo na repetição, mas sim, do que
mais gostaram.
Estava encantada com tudo o que
presenciava. A felicidade das crianças iluminava seus rostinhos e era
demonstrada na simplicidade dos gestos de carinho com todas os educadores ali presentes.
Posso dizer que foi gratificante assistir ao vivo tremenda cena educativa. Fiquei
muito agradecida por fazer parte de tal ambiente.
Cheguei na escola e um ano depois pude
colaborar com os colegas no projeto horta, inclusive conhecendo outro servidor,
o Sr. Érico, que além dos seus afazeres costumeiros se dedicava ao plantio e
colheita de diversas plantas. Sempre sorrindo e feliz ensinava para todos a
serventia de cada plantinha, fosse um tempero, erva medicinal ou verdura.
Sempre via as crianças durante as
refeições. Achava tudo muito bacana, porém, durante as ações do projeto pude
estar mais presente nas práticas que envolvem a alimentação escolar. Aprendi muito com a curiosidade das
crianças em suas descobertas nas diversas ações que participavam desde o
plantio até a degustação e, com os profissionais que incentivam e participam
ativamente do processo alimentar da horta até a mesa.
Imagino as memórias que farão parte da
vida dessas crianças ao longo de suas existências. Recordarão dos pratos
enfeitados, cheiros, sabores, formas e texturas dos alimentos que mais gostaram,
das cenas felizes e das pessoas que as
trataram com tanto compromisso e respeito durante sua formação escolar na
Educação Infantil.
Hoje entendo que alimentar de forma
saudável é um ato de amor!
POSTADO POR VERA LÚCIA
EQUIPE EMEI SENADOR CARLOS JEREISSATI